No artigo intitulado “Aporofobia: uma doença Brasileira”, publicado na última quinta-feira (11) pelo jornal Folha de S. Paulo, o professor de filosofia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) Campus Eunápolis, Aldineto Miranda Santos, aborda a relação entre aporofobia, que é a aversão aos pobres, e o racismo. Segundo o autor, essa patologia social, nomeada por Adela Cortina, filósofa espanhola, sempre assolou a sociedade brasileira e está intrinsecamente ligada a outras questões sociais, principalmente ao racismo.
A análise de Aldineto Santos revela que a aporofobia, que é a aversão aos pobres, se entrelaça com o racismo, resultando em uma doença social que afeta parte da elite brasileira. A filósofa Adela Cortina desenvolveu esse conceito para explicar uma patologia social existente, mas muitas vezes não reconhecida e, portanto, difícil de ser combatida. O autor ressalta que a aporofobia no Brasil está enraizada na história do país, especialmente na relação da elite com o regime escravocrata que perdurou por quase 400 anos. Além disso, ele destaca a atual “elite Faria Lima”, referindo-se à elite econômica e social que ocupa uma posição privilegiada na sociedade.
Em entrevista ao portal do IFBA, Aldineto Santos abordou a questão do posicionamento de alguns setores da população brasileira em relação à aporofobia e ao racismo. O professor respondeu a um comentário de um leitor da Folha de S. Paulo que fazia referência a levar pessoas da Cravolândia para a porta do autor. Ele considerou essa postura como um reflexo do pensamento de uma parcela da população que se autointitula “homens de bem” e costuma se apresentar como defensores da moral e dos bons costumes. No entanto, ele ressalta que as piores atrocidades ao longo da história foram cometidas por indivíduos que se consideravam civilizados, citando exemplos como a Inquisição, o nazismo e as ditaduras latino-americanas.
Sobre a relação entre aporofobia e a elite brasileira, tanto no período escravocrata quanto na atualidade, Aldineto Santos enfatiza que o Brasil é uma nação construída com base em aporofobia e racismo. Ele argumenta que a modernidade europeia, com seu domínio colonial na América Latina, impôs uma noção restrita de sujeito, associada a características como ser branco, homem, cristão, europeu, heterossexual e misógino. Os povos indígenas e os negros escravizados foram marginalizados e forçados a se adequar a essa categoria estabelecida. O autor aponta que o colonialismo e a colonialidade ainda são fundamentais para a construção aporófoba da subjetividade da elite brasileira e daqueles que, mesmo sendo subalternizados por essa elite, se submetem a ela.
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