O recuo do presidente Jair Bolsonaro com sua “declaração à nação” foi recebido com ceticismo no Supremo Tribunal Federal e durou pouco: na noite de quinta-feira, o presidente voltou a questionar o sistema eleitoral e a atacar o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso.
O aceno feito na nota redigida com a ajuda do ex-presidente Michel Temer agradou ministros da ala política do governo, como Ciro Nogueira, da Casa Civil. Paulo Guedes, da Economia, também demonstrou satisfação. A avaliação é de que os ataques promovidos nos atos antidemocráticos de 7 de setembro haviam esgarçado a relação com o STF e o Legislativo a níveis insustentáveis.
A carta, porém, pegou de surpresa interlocutores próximos de Bolsonaro, desagradou a ala militar do governo e desorientou a militância, sobretudo nas redes sociais. Bolsonaristas não esconderam a decepção. Já os adversários desdenharam da repentina mudança.
A carta foi publicada depois de uma imediata repercussão negativa dos ataques que Bolsonaro proferiu no feriado. Entre as consequências, o assunto impeachment subiu de temperatura da Câmara, e medidas importantes para conter a escalada da crise econômica, como a construção de uma saída para o aumento dos precatórios em 2022, em negociação no Supremo, emperraram. Além disso, o presidente se viu isolado como nunca.
Michel Temer foi o articulador da carta. Ele foi chamado a Brasília, chegou no Palácio do Planalto com um documento pronto e convenceu Bolsonaro a assiná-lo com o argumento de que todos ganhariam com o gesto. Ao GLOBO, Temer disse acreditar que Bolsonaro não promoverá nova escalada da crise institucional.
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