Policiais militares e oficiais de justiça retomaram, nesta quinta-feira (24), a execução de um mandado de reintegração de posse em uma área de mata atlântica de quase 200 hectares em Trancoso, litoral sul de Porto Seguro.
Desde a última segunda-feira (21), o efetivo policial tenta retirar cerca de 35 famílias que ocupam o imóvel há quase um ano e meio. O trabalho foi suspenso na quarta-feira, porque uma máquina usada para derrubar os barracos levantados pelos posseiros precisou passar por reparo mecânico.
“Não foi dado nenhum prazo para a gente sair do local. Aqui tem crianças e mulheres. Não temos para onde ir. O imóvel fica de frente para o mar, mas ocupamos uma pequena parte, em um boqueirão, bem nos fundos”, disse Edvaldo Alves, de 44 anos. Não houve registro de confronto.
O terreno, localizado no Mirante do Rio Verde, pertence ao empresário espanhol naturalizado brasileiro Gregório Marin Preciado, envolvido no nebuloso caso da Ilha do Urubu, na mesma localidade. Os invasores alegam que a área está penhorada pela Justiça, devido a uma dívida milionária do empresário com um banco.
Durante a ação de reintegração de posse, o advogado de Preciado afirmou ao grupo que o fato não justificava uma invasão. “Se Seu Gregório tem dividas, ele responde por estas dívidas na Justiça. Ele, como devedor, quando tem um bem penhorado, assina como fiel depositário desse bem. Se ele não garantir que esse bem esteja preservado, ele pode até ser preso. Amanhã ou depois, se uma fiscalização ambiental vier aqui e constatar queimada ou derrubada de árvore, ele responde a processo criminal, porque a área é dele, ainda mais se esta área está penhorada no processo judicial”, afirmou o advogado aos posseiros.
ILHA DO URUBU
Gregório Marin Preciado, que é casado com uma prima do ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), está envolvido no nebuloso caso da Ilha do Urubu, em Trancoso, que a três décadas era disputada por membros da família Martins.
Em 2006, quase no final do seu mandato, o então governador da Bahia Paulo Souto (DEM) doou a ilha para cinco integrantes da família, que, quatro meses mais tarde, a vendeu para Preciado por apenas R$ 1 milhão.
Segundo o livro A Privataria Tucana, Gregório Preciado usou o imóvel como garantia para obter um empréstimo de 5 milhões de dólares no Banco do Brasil. Um ano mais tarde, a Ilha foi vendida por R$ 12 milhões para o empresário belga Philippe Meeus.
De acordo com legislação, a ilha só poderia ser vendida pelo quinteto da família Martins após cinco anos de uso.
Em 2012, após a indefinição jurídica, o Tribunal de Justiça da Bahia reconheceu como legítima a posse da terra por uma antiga moradora, Vandeíta Martins. Mas o imbróglio jurídico ainda não terminou.
Adicione nosso número e envie vídeo, foto ou apenas o seu relato. Sua sugestão será apurada por um repórter. Participe!